A Casa dos Espíritos
ISABEL ALLENDE
"Escrevo, ela escreveu, que a memória é frágil, e o transcurso de uma vida, muito breve, e tudo acontece tão depressa que não conseguimos ver as relações entre os acontecimentos, não podemos medir a consequência dos atos, acreditamos na ficção do tempo, no presente, no passado e no futuro, mas também pode ser que tudo aconteça simultaneamente, (…) Por isso, minha avó Clara escrevia em seus cadernos para ver as coisas em sua dimensão real (...)"
"- Tal como no momento de vir ao mundo, ao morrer temos medo do desconhecido. Mas o medo é algo interior, que nada tem a ver com a realidade. Morrer é como nascer: apenas uma mudança - dissera-lhe Clara."
ISABEL ALLENDE
"Entrava sem bater, quando ele estava deitado no catre, lendo, encheu o túnel com a dança sinuosa de seu longo cabelo e dos braços ondulantes, tocou os livros sem nenhuma reverência e até se atreveu a tirá-los de suas prateleiras sagradas, soprar-lhes o pó sem o menor respeito e depois atirá-los sobre a cama, falando incansavelmente enquanto ele tremia de desejo e surpresa, sem encontrar todo o seu vasto vocabulário enciclopédico uma só palavra que a retivesse, até que por fim ela se despediu, com um beijo na face, beijo que lhe ficou ardendo como uma queimadura, único e terrível beijo, que lhe serviu para construir um labirinto de sonhos em que ambos eram príncipes apaixonados."
ISABEL ALLENDE
"Então, eu soube que o coronel García e outros como ele têm seus dias contados, porque não tinham conseguido destruir o espírito dessas mulheres."
ISABEL ALLENDE
"Desconfio de que tudo o que aconteceu não seja fortuito, mas que corresponda a um destino traçado antes de meu nascimento e que Esteban García seja parte desse desenho. É um traço rude e torcido, mas nenhuma pincelada é inútil."
ISABEL ALLENDE
"A alta burguesia e a direita e econômica, que haviam propiciado o golpe militar, estavam eufóricas. No começo, assustaram-se um pouco, ao ver as consequências de sua ação, porque nunca lhes coubera viver sob uma ditadura e não sabiam o que era. Pensaram que a perda da democracia seria transitória e poderiam viver durante algum tempo sem liberdades individuais ou coletivas, desde que o regime respeitasse a liberdade de ação."