O Escravo do Governador
SERGE PATIENT
Calculava a dificuldade do seu intento. Um idioma parecia lhe um touro que não se deixa domar facilmente. A expressão espanhola “dominar uma língua” reflete perfeitamente o sentimento de domínio orgulhoso que o povo francês traduz em termos eróticos. Não querem eles, realmente “possuir” sua língua?
D’Chimbo desejava verdadeiramente possuir a linguagem de seu patrão, como já lhe possuía a mulher.
"A poeira que arde nos teus olhos não poderá ser varrida nem pela chuva nem pelo vento."
SERGE PATIENT
"Era lá, do outro lado do oceano. Um território tão distante que para chegar à Guiana, foi necessária uma longa travessia até que a Terra surgisse na linha do horizonte envolta do úmido ar cinzento da madrugada. Mas, do fundo do porão do navio negreiro, ele não podia vê-la, ele só podia senti-la através do vôo estridente das gaivotas no céu lívido."
SERGE PATIENT
"Quando eles o olhavam firmemente nos olhos e enunciavam a palavra "negro" ele não duvidava que "negro" seria, a partir de então, seu nome e sobrenome. Ele sentia-se ameaçado por uma morte ritualística pela qual deixaria de ser D'Chimbo e tornar-se-ia simplesmente um negro."
SERGE PATIENT
"A condição de escravo não permitia reconhecer a individualidade senão por meio do ódio do patrão. Todas as palavras que ela dizia para melindrá-lo, feriam-no no fundo mas também se constituíam numa forma pela qual ela reconhecia a condição humana."
SERGE PATIENT
"Porém, o amo deu-se por feliz, constatando que o aculturamento se impõe mesmo diante da mais rude natureza."
SERGE PATIENT
"Teve aguda consciência de que sua obstinada e inquietante ambição obscurecera nele o vigor da juventude. Então, relaxado, irracionalmente começou também a rir como Virginie.
Mas ela era branca e ele, negro. Essa percepção evidenciou-se fulminante, estancando a fonte de seu riso."