O Túnel - Argentina 🇦🇷

Na introdução deste livro, Juan Pablo Castel apresenta-se como o assassino de María Iribarne. Assim, numa escrita sem remorso, "O Túnel" inicia o relato de Castel sobre como conheceu e assassinou a única pessoa que ele pensou que entendia ele.

Neste romance psicológico do fim dos anos 1940, Castel é um pintor consideravelmente conhecido em Buenos Aires. Ele se mostra um artista prepotente que não gosta de ninguém e se acha incompreendido. Tolera a humanidade sempre num tom de julgamento.

O túnel do título é construído por ele mesmo. A solidão dele é criada pelo desprezo que tem por todos. Não há nenhum ser que ele demostre algum tipo de sentimento mais fraterno, de empatia ou de amor.

Até que um dia, em uma de suas exposições ele vê em uma mulher que observa fixamente um detalhe em um quadro dele. Algo que nenhum crítico ou pintor havia notado. Com isso, ele vê a chance de quebrar essa solidão e conhecer alguém igual a ele. Assim, ele se agarra de forma obsessiva nesta chance.

Este livro me trouxe tanto mal estar e uma ressaca literária difícil de lidar. É relacionamento tóxico ao extremo do começo ao fim

Quem é Maria?

Maria Iribarne aparece como Juan a via. Após ruminar sobre o texto, eu não consegui dizer se ela é o que Juan descreve em sua exacerbada racionalização. Ele analisa cada gesto, palavra e olhar dela entrando em uma espiral dentro de sua cabeça.

Durante a minha ressaca deste livro, li algumas resenhas para ver se alguém tinha alguma conclusão sobre quem é María que fosse melhor do que o meu quase diagnóstico. E encontrei algumas comparações com Capitu (personagem de Dom Casmurro de Machado de Assis). Dissimulada ou triste? Essa ambiguidade similar a de Capitu está presente em todo relato de Juan sobre María.

SPOILER ALERT

em todo caso havia um só túnel, obscuro e solitário: o meu (…) E num desses trechos transparentes do muro de pedra eu divisara esta mulher e crera ingenuamente que vinha do outro túnel paralelo ao meu, quando na realidade pertencia ao imenso mundo, ao mundo sem limites dos que não vivem em túneis;

A escrita de Ernesto Sabato te leva para a cabeça de uma pessoa doentia e obsessiva. Você fica desconfortável e torce para que María se salve, mesmo já sabendo o fim.

Não recomendo este livro para quem tem gatilho com tópicos sobre relacionamento tóxico.

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Sobre o Escritor

Ernesto Sábato (1911-2011) foi um romancista, ensaísta e artista plástico argentino. Pesquisador e físico, começou a publicar artigos em 1941, com temas filosóficos, científicos e políticos. Foi atuante pelos direitos humanos na transição democrática da Argentina. É considerado um dos maiores autores argentinos do século XX.

Outros Livros: Uno y el Universo (1945), Sobre Heróis e Tumbas (1961), O escritor e seus fantasmas (1976), Abadon, o Exterminador (1974), Antes do fim (1998) e A resistência (2000)