Poema A La Marinera Limeña da poeta Peruana Victoria Santa Cruz.
A La Marinera Limeña | À Marinera de Lima |
A veces suceden cosas tan raras, tan especiales que no me atrevo a contar, no por temor a la mofa sino para que no digan: “Victoria se ha vuelto loca”. Pero el deseo insistente de la comunicación me impulsa, me acicatea y cedo. Ya hablando estoy... Caminaba, pensativa, fija en mi mente una idea, cuando al doblar una esquina divisé a La Marinera*. Me detuve sorprendida ¿La Marinera? ¿No es broma? ¿La Marinera Limeña? ... ¡La Marinera en persona! Pasó muy cerquita a mí rozando casi mi cuerpo ; caminaba presurosa, hermosa, graciosa, altiva. Tan rápido se alejaba, tan segura iba de sí que sin pensarlo dos veces sobre mis pasos volví : ¡Marinera! ¡Marinera! ¡Marinera!… No volteó. Ni hubo en ella el menor gesto que indicara que me oyó. -Que extraño ¿Qué le pasó? ¿Qué fue lo que sucedió? Ella tan sensible y franca ... ¿No le ha gustado mi voz? “¡A usté’ también se la hizo! ¡Tampoco le contestó!” -Me dijo un guapo moreno que observaba mi estupor. Ya ve usted, ni me ha mirado. -Ella es así ¿Por qué pues? ¿Se le han subido los humos porque reina y señora es ...? No creo, será tal vez que el nombre no le ha gustado, porque lo de “Marinera” fue posterior... -¡Eso no e’! Hace apenas unos días lo mismo a mi me ocurrió y apelé a su antiguo nombre: ¡Zamacueca*! No voltió. ¿No le hizo caso? -Ni caso ¿No le gustó? -Que se yo, lo cierto e’ que sin mirarme al lado mío pasó. Y llevo algunas semanas enquistao’ en esta esquina esperando que se rompa esta imaginaria inquina... ¿Qué va usted a hacer? -¡Sabe Dio’! pero tengo una esperanza porque ahora somos dos. Ya recurrí a varias tretas, ninguna fruto me dio, tócale a ‘uté el turno amiga, hurge en su imaginación. ¿Quéhay que hacé’ para que escuche, se detenga, nos responda...? ¿Si está a disgusto con su obra? ¿Si siente sati’fación? ¿Eso va usted a preguntarle? ¿Y ‘uté? Pues eso yo no. A mi me importa saber el lugar donde nació -¡Eso es fácil! ¿De dónde es? -Dicen que de España ¿Ah sí? -¿No está de acuerdo? ¡Pues no! -¿Africana entonce’? ¡No! ¿Entonce’? ¡Entonces qué! ¿Soy acaso una adivina que misterios develara? En todo caso de bruja no tengo más que la cara... ¿Que somos dos...? Aceptado. Que una idea ha de brotar. Dígame ... ¿De la guitarra las cuerdas hace trinar? ¡Perfecto! ¿Dónde aprendió? ¿Por tradición? ¡Reperfecto! ¡Mañana a esta misma hora la esperamos! ¿Si? -¡De acuerdo! Y al otro día, en la esquina, no vino solo, eran dos : su hermano - gran cajonero* y él -amo del bordón . Y ocurrió lo inesperado, el milagro, ¡Apareció! Cautivando con su gesto, hipnotizando, bailó... Olvidamos las preguntas ingenuamente planteadas, la vida de ella emanaba como diciendo: ¡Que importa! ¿Qué cosa puede importar el lugar donde nací a quien vibra y vive en mí? No respondo a ningún nombre Bailo en tierra o en tapiz. Para vivir falta no hacen pergaminos, flor de lis. Mientras existan guitarras, dedos que sepan tañer, percusionistas con fibra, voces rajadas, con fe, yo estaré presente, viva; pues la danza es eso. ¡Eso es! Eso que no se remeda, que no se cuenta “un, dos, tres...” ¡Es orgánica, sentida, brota del alma, del ser. ¿Quieren conocer mi origen, de dónde realmente soy? ¡Pues de aquel que vibra y siente! ¡Víveme y a ti me doy! | Às vezes as coisas acontecem tão raras, tão especiais que não me atrevo a contar, não por medo do ridículo mas para que não digam: “Victoria enlouqueceu.” Mas o desejo insistente da comunicação me impulsiona, me estimula e eu cedo. Já estou falando... Caminhava, pensativa, fixa em minha mente uma ideia, ao virar uma esquina divisei A Marinera. Parei surpreendida A Marinera? É uma piada? A Marinera de Lima? ... A Marinera em pessoa! Passou muito perto de mim quase roçando meu corpo; caminhava rapidamente, lindíssima, engraçada, altiva. Tão rapidamente se afastava, ela ia tão segura de si mesma que sem pensar duas vezes Voltei meus passos: Marinera! Marinera! Marinera!… Ela não se virou. Não houve nem o menor gesto nela indicando que ela me ouviu. -Que estranho... O que aconteceu com ela? O que foi que aconteceu? Ela é tão sensível e franca... Não gostou da minha voz? “Ela fez isso com você também! Tampouco me respondeu! -me contou um lindo moreno que observava meu estupor. Você vê, você nem olhou para mim. -Ela é assim Porquê então? Subiu a cabeça dela porque é a rainha e a senhora...? Não acredito, será talvez que ela não gostou do nome, porque “Marinera” foi bem depois… -Não é isso! Há apenas alguns dias atrás a mesma coisa aconteceu comigo e apelei para seu antigo nome: Zamacueca! Ela não respondeu. Não prestou atenção? -Nem um pouco Não gostou? -Sei lá, a verdade é que sem olhar para mim Ela passou ao meu lado. E já se passaram algumas semanas que encostado a esta esquina espero que se quebre esse feudo imaginário... O que você vai fazer? -Sabe Deus! mas eu tenho uma esperança porque agora somos dois. Já recorri a vários truques, Não me deram frutos, É a sua vez, amigo, mergulha em sua imaginação. O que eu tenho que fazer para fazê-la escutar, parar, e nos responder…? Se está insatisfeita com seu trabalho? Se sente satisfação? Você vai perguntar isso a ela? E você? Bem, eu não. Importa-me saber o lugar onde ela nasceu -Isso é fácil! De onde é? -Dizem isso da Espanha Ah sim? -Não está de acordo? Pois não! -Africana então? Não! Então? Então que?! Eu sou uma cartomante Que revelará mistérios? Em qualquer caso de uma bruxa Não tenho nada além da cara… Que somos dois...? Certo. Uma ideia tem que surgir. Me conte... Sobre o violão Faz as cordas vibrar? Perfeito! Onde você aprendeu? Por tradição? Perfeito! Amanhã na mesma hora Esperamoa por ela! Sim? -De acordo! E no dia seguinte, na esquina, Ele não veio sozinho, eram dois: seu irmão - grande cajonero e ele - mestre das cordas. E o inesperado aconteceu, o milagre, Apareceu! Cativante com seu gesto, hipnotizante, bailou... Esquecemos as perguntas afirmadas ingenuamente, A vida emanava dela como dizendo: O que importa! O que pode importar o lugar onde nasci a quem vibra e vive em mim? Não respondo a nenhum nome Danço na terra ou numa tapeçaria. Para viver não é preciso pergaminhos, flor de lis. Enquanto existirem guitarras, dedos que sabem tocar, percussionistas com fibra, vozes embargadas, com fé, Estarei presente, viva; Bem, dança é isso. Isso é! Aquilo que não pode ser imitado, que você não conta “um, dois, três…” É orgânico, sincero, Nasce da alma, do ser. Você quer saber minha origem, de onde eu realmente sou? Pois bem, daquele que vibra e sente! Viva-me e eu me entrego a você! |
*Marinera - um casal dança mais conhecido na costa do Peru. As principais variantes são: a marinera de Lima, a marinera do norte e a marinera das cidades do sul do Peru.
**Zamacueca - uma antiga dança e música colonial que se originou no Peru, com raízes nos ritmos espanhóis e andinos. Este estilo musical é considerado um precedente da cueca, da zamba, da chacarera, do bailecito e da marinera.
***cajonero - músico que toca o cajon, instrumento de origem afro-peruana muito utilizado no flamenco.
Obs.: A versão em português disponível neste post é uma tradução livre do texto original.
Sobre a Poetisa
Victoria Santa Cruz (1922-2014) foi uma poeta, coreógrafa, folclorista, estilista e ativista peruana. Filha de um dramaturgo e uma bailarina de marinera, formou com seu irmão mais novo, Nicomedes Santa Cruz, um dos primeiros grupos teatrais somente com pessoas negras. Ela é considerada uma das personalidades mais importantes da cultura afro-peruana.
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