A Trégua, de Mario Benedetti, mostra o diário de Martín Santomé, um homem de Montevideo prestes a completar 50 anos e dar entrada em sua aposentadoria.
Durante um ano em seu diário, nós vemos todo o desenrolar de sua vida sem graça e suas divagações sobre o outro lado: "Quem me dera ficar na cama até tarde, pelo menos até as nove ou as dez, mas às seis e meia acordo sozinho e já não consigo pregar o olho. Às vezes penso o que farei quando toda a minha vida for domingo."
Até que, com a chegada de novos funcionários no escritório, ele conhece Laura Avellaneda, 25 anos, e aos poucos começa a se apaixonar por ela. E os pensamentos sobre a aposentadoria ficam em segundo plano, e o amor e o medo da diferença de idade tomam lugar.
Esta não é uma história de amor. Pelo menos não como se espera em uma comédia romântica ou um enemies to lovers.
Primeiras Impressões
Por ser um diário, tudo e todos ganham as cores que Santomé dá: desde de sua primeira mulher e seus filhos aos colegas de trabalho e o garçom do bar. Confesso que a quantidade de preconceito e arrogância de Martin Santomé me deu momentos de raiva que não me deixaram ver a crítica por trás da personagem. É tanto machismo que eu precisei de um tempinho a mais para refletir sobre o livro.
Esse livro traz muito a sensação de deixar a vida passar, e como é fácil cair na monotonia e sufocar a vida. Há uma cena no escritório sobre o bilhete da loteria que acho que traduz bem essa sensação. Se você ganhasse na loteria, continuaria fazendo o que faz?
O que você faria com o seu tempo quando não precisasse mais trabalhar? Seja por aposentadoria ou sendo milionário?
SPOILER ALERT
Este livro teve um enorme sucesso e foi adaptado para o cinema, tv e até balé no Uruguai. Em 1974, o livro foi adaptado para um filme homônimo que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Além dele, há outra produção mexicana de 2003 com o mesmo nome.
Nota: Eu assisti o filme de 1974, e Martín é bem mais "agradável" do que no livro.
A escrita de Mario Benedetti é envolvente e cria mais nuances quanto mais reflito sobre o texto. É um livro que te leva para Montevidéu, com as descrições dos locais e leituras da sociedade feitas pelo protagonista. Imerso na atmosfera Rioplatense, é um livro que te leva a pensar sobre o que queremos da vida e o que fazemos da vida no dia-a-dia.
No final, foi uma ótima leitura que rendeu muitos insights e com certeza irei reler mais para frente.
Sobre o Escritor
Com mais de 80 livros publicados, o escritor e poeta uruguaio é um dos mais importantes do Uruguai e da América Latina. Tradutor e jornalista, Mario Benedetti (1920-2009) era militante político e foi exilado por mais de 10 anos. Seus textos mostram de forma sutil os pequenos fatos da vida cotidiana da classe média Uruguaia, principalmente de Montevidéu.
Outros Livros: Quem de Nós (1953), Primavera num Espelho Partido (1982), A borra de café (1992), Pedro e o Capitão(1979), Correio do Tempo (1999), O amor, as mulheres e a vida (1995)
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