A Cachorra - Colômbia 🇨🇴
- iamfromsouthamerica
- 1 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 3 de nov. de 2023

Ambientado na costa do Pacífico colombiano, este romance curto e incisivo é um soco de realidade. A Cachorra, de Pilar Quintana, narra as vivências de Damaris, mulher negra de meia-idade e solitária que vive em um povoado simples próximo a Buenaventura.

Em um casamento apático e fracassado com Rogelio, Damaris não conseguiu ser mãe e enfrenta as dificuldades de uma vida simples e pobre. E a maternidade, ou a falta dela, é marcante no livro, e acaba definindo quem Damaris é.
Com esse sentimento de falta, Damaris adota uma cachorra de uma ninhada destinada a não sobreviver. Ela enche de cuidados e mimos a cachorrinha para que sobreviva. Nomeia ela de Chirli, o nome da filha que nunca teve. Apesar de sua devoção, ela teme as reações das demais pessoas ao ver tal amor.
De uma sensibilidade incrível, Pilar nos mostra a realidade de Damaris e seu passado doloroso enquanto se apega a cachorrinha. Vemos Damaris mudar igual ao clima quando chega a tempestade ou o movimento das marés quando mostra uma areia escura cheia de lama e lixo. A natureza comanda o ritmo da vida e o mar toma contornos de monstro. Ela entra "na idade que a mulher seca" e a cachorra segue sua natureza animal.

Inquietante e comovente, nós somos levadas pelos pensamentos e sentimentos de Damaris. E quanto mais a história se desenvolve, mais ambíguo fica o sentido do Título do livro. Tanto na língua original quanto em português, podemos usar Cachorra como um xingamento a mulher, como se fosse uma mulher de pouco valor. Assim, quem seria a cachorra do título? Chirli ou Damaris? Seria Damaris menos mulher por não ter filhos e ser maltratada pela vida como uma cachorra na rua?
Assim, como a maternidade, as diferenças de classe e raça são importantes na história. São o cenário, como nas diferentes áreas do povoado: a asfaltada, dos brancos ricos; e a de areia batida, dos pobres, negros e indígenas. Também são parte dos relacionamentos, violências e culpas na vida de Damaris e de seus familiares.
SPOILER ALERT
Pensou que ninguém nunca iria confundi-los com os donos. Eram uma cambada de negros pobres e mal-vestidos usando as coisas dos ricos. Uns insolentes era o que as pessoas pensariam, e Damaris queria morrer, porque, para ela, ser insolente era algo tão terrível ou descabido quanto o incesto ou um crime.
É um texto com linguagem simples e direta, sem supérfluos, e cria uma história instigante e dolorida. Difícil parar de ler. Em uma entrevista, Pilar disse que era difícil a ficção competir com a realidade, mas ela chegou bem perto neste livro.
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Sobre a Escritora
Pilar Quintana (1972) é conhecida por seus contos de temática contundente e violenta. É uma escritora colombiana premiada e está na primeira lista de Bogotá39. Ela é uma voz conhecida na literatura latino-americana contemporânea. Seu livro A cachorra foi um grande sucesso e foi traduzido para 15 idiomas.
Outros Livros: Cosquillas en la lengua (2003), Coleccionistas de polvos raros (2007), Violación (2014), Conspiración Iguana (2009) Caperucita se come al lobo (2010) e O Abismo (2023)
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