La Virgen Carrillo
MABEL PEDROZO
"Seu cheiro de cigarro deixou María Assunção sonolenta, ela desfalecia, se perdia naqueles braços onde a prudência mandava que devia escapar. E ela o fez. Mas primeiro sentiu os lábios dele. O beijo esfregado em seu rosto. Marcando-a com tudo o que há de vida e morte numa boca condenada. Condenadora."
"Francisco Solano sorriu. 'Seu tio é um tonto', disse sua mãe sobre aquele homem. O Presidente López, que escutou a observação, respondeu: 'Aquele que sabe quando calar, domina a mais indomável das feras'. Juana Pabla fingiu não entender."
MABEL PEDROZO
"Ele a levou para o quarto onde a escuridão tecia suas meadas de preto e vaga-lumes. Colocou-o ao lado do Karamegua (tronco) misturando suas cores pálidas com a tinta à base de água da parede. À sua frente, respirando em seu rosto, estava seu primo, o brigadeiro Solano. Sem blusa. Pés descalços. Todo-Poderoso naquela solidão onde ele sempre seria o mais solitário."
MABEL PEDROZO
"Um nariz torto para a direita era o bastão cravado num rosto onde o riso marinho do português e as caretas nostálgicas do espanhol concebiam algo demasiado confuso para a sua alma especificar."
MABEL PEDROZO
"Não tocariam o outro. Ela sabia disso. Ele sabia disso naquele momento. Ele nunca precisou de um ñandeva tanto assim. De uma ñandeva. O povo deles. Aquilo que permita amar aqueles que já se amavam. Sem pedir permissão a ninguém porque não havia ninguém que pudesse autorizar o que não lhe competia."
MABEL PEDROZO
"Como se ninguém a visse e sem ver ninguém, com a cabeça da parturiente no colo, Damiana sussurrava a canção de embalar roubada pelos castelhanos das mães berberes. A canção, trazida nas caravelas como a mais nostálgica de suas bandeiras, desembarcou no porto de Assunção e deixou-se adoçar pelos ventos dos coqueiros para cair nos lábios de Damiana Falcón."
MABEL PEDROZO
"Calmamente, ele se mostrou completamente sob aquela luz que não era lua porque não havia lua. Ambos, como vaga-lumes, iluminaram-se um para o outro. Beberam em agonia de sede."