Lituma nos Andes
MARIO VARGAS LLOSA
"- Todos estes cerros estão cheios de inimigos - disse suavemente. - Vivem aí dentro. Passam dia e noite tramando maldades. Causam danos e mais danos. Essa é a razão de tantos acidentes. Os desmoronamentos das minas. Os caminhões que perderam os freios ou aos quais faltou pista nas curvas. As caixas de dinamite que explodem levando pernas e cabeças. (…) Também empurram os huaycos"
"Além disso, graças a esses cerros, Naccos tinha uma aura, uma força mágica. O perigo sempre nos atraiu. Não representa a vida verdadeira, a vida que vale a pena? Ao contrário, a segurança é o tédio, é imbecilidade, é morte. (…) Estas montanhas estão cheias de sepúlcros antiquíssimos. Sem essas presenças, não habitariam esta região dos Andes tantos espíritos."
MARIO VARGAS LLOSA
"Antigamente, as pessoas se atreviaam a enfrentar grandes danos com expiações. Assim se mantinha o equilíbrio. A vida e a morte como uma balança com dois fardos com o mesmo peso, como dois carneiros com a mesma força que trocam cabeçadas sem que nenhum avance ou recue."
MARIO VARGAS LLOSA
"É verdade que estes sempre aparecem nos tempos difíceis, como demonstra a invasão de Ayacucho. Por aqui deve haver alguns nas grutas desses cerros, amontoando sua reserva de gordura humana. Devem precisar dela, lá em Lima, ou nos Estados Unidos, para azeitar as novas máquinas, os foguetes que enviam à Lua, por exemplo. Dizem que não há gasolina nem óleo que faça funcionar tão bem os inventos científicos como a gordura da ralé."